Ela se lembrava bem. Aquele dia de verão há 7 anos, o sol quente e umas sementinhas nas mão pequeninas.
- Venha, vamos plantar naquele canto. - dizia à amiga enquanto corria embalada.
Fez exatamente como aprendeu na escola, cuidou da terra, arou, adubou e colocou a expectativa de uma árvore ali, carinho e amor maior não se encontraria em lugar nenhum. Molhou e sorriu.
- Será que ela vai crescer? - a amiga perguntou.
- Claro que sim. - a certeza fazia morada no seu coração - Vamos brincar em sua sombra muitas vezes ainda.
Como essa frase ficou marcada em sua vida. E quantas foram as vezes que ao redor daquele pé de jabuticaba as duas brincaram e trocaram confidências de adolescentes descobrindo o mundo. E ali daria seu primeiro beijo aos 14 anos. Ali choraria no ombro da amiga a dor do primeiro amor partido. Ali...
Abraçou seu travesseiro e sentiu o coração apertar... Foi um dia antes do acidente. As duas passavam a tarde juntas e foram até a jabuticabeira.
- Me promete uma coisa?
- Sim.
- Que você sempre cuidará do nosso pé de jabuticaba?
- Claro que sim. Mas nós vamos cuidar dele para sempre.
Há coisas nessa vida que não se explicam. No dia seguinte, um carro, um acidente e nada seria como antes...
Sim, nada seria como antes. Naquele coração que ainda descobria o amor, a saudade doída da amiga se instalaria por um longo período. E as lágrimas rolam... E a dor persiste... Mas restou a jabuticabeira, como os campos de trigo a lembrarem os cachos dourados de um pequeno príncipe.
Agora, no escuro do seu quarto, o pranto tomava conta do rosto que combinava muito melhor com um sorriso. Por quê? Pergunta pertinente que perduraria por muitos anos em seus pensamentos. Ela era tão nova, tinha tanto por viver ainda? Por quê? E quem iria entender? Quem poderia acalmar aquele coração machucado? Mal saberia ela...
E cansada de tanto chorar, foi vencida pelo sono. Sonhou com a amiga correndo para a sombra da jabuticabeira, sorrindo e chamando-a. Ouviu um latido e, no seu sonho, aquele cachorro que a cheirara recentemente aparecia fazendo festa. Era um belo dia de verão e os raios de sol esquentavam sua pele produzindo uma sensação maravilhosa de bem estar. E no coração instalou-se a mais profunda paz. Paz... A menina sonhadora a procurava e encontrava, quando dormia ou cuidava da árvore.