segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Discurso Orador da Turma de Direito UNIDAVI 2010

Em nome da turma de formandos 2010/2 do curso de Direito da UNIDAVI saúdo o Magnífico reitor Viegand Eger bem como as demais autoridades aqui presentes. Agradeço ainda nosso patrono Estevão Ruchinski Filho, paraninfo Paulo Cesar Voltolini e amigo de turma Edison Zimmer, bem como a todos os professores que tornaram possível esta graduação. Ainda, um agradecimento especial a todo o corpo de funcionários da UNIDAVI.
Bom, enfim nos formamos... E cada um traz em sua história pessoal as dificuldades que encontrou para chegar até aqui... Durante este período de faculdade lidamos com felicidades e tristezas, vitórias e derrotas... E o que seríamos não fossem os amigos ao lado a brindar nossas vitórias e erguer-nos em nossas derrotas?
E quantos amigos fizemos nesta sala tão grande não é mesmo? Das conversas nos intervalos (e para alguns até durante as aulas...), às festas e chegando à socialização do conhecimento durante as provas (não era cola) nós nos aproveitamos mutuamente... Tudo bem que alguns se aproveitaram mais uns com os outros... Teve até gente dividindo namorado... É... A amizade era muito grande... Falando nisso... Alguém tem uma furadeira aí? Pode ser broca tamanho 10 não tem importância... Tenho que consertar um peugeot 307 que caiu na água... Tem coisas que é melhor esquecer...
O fato é que hoje, sem sombra de dúvidas, somos mais do que fomos quando pisamos pela primeira vez o piso da UNIDAVI... E este é o motivo da festa... Comemoremos, com todos os exageros que julgarmos pertinentes, a nossa formatura nesta festa merecida onde hoje dizemos aos nossos familiares e amigos que nos tornamos bacharéis em Direito... Mas, parafraseando Nelson Mandela, após termos escalado esta montanha a que nos dispomos, devemos olhar no horizonte e perceber o quanto, neste país, outros tantos montes há por escalarmos... Advogados, juízes, promotores, policiais, auditores, enfim... Meus amigos, qualquer caminho que tomemos nos levará a pessoas necessitando do nosso auxílio... Esperando que levemos justiça para, por vezes, apaziguar tormentas que afligem suas almas...
Certa vez ouvi de um advogado que não existe margem para paixão dentro do processo... Pois hoje digo a vocês formandos, sem medo de errar, que não há forma de se fazer justiça se não deixarmos o racionalismo retrógrado de um positivismo arcaico de lado e lutarmos pelos nossos pares com a mais profunda paixão... Um país justo não se faz com legalistas como fora a Alemanha nazista, mas sim de apaixonados desobedientes como a Índia de Gandhi... Realizemos o fim para o qual estudamos por tanto tempo, qual seja a pacificação de uma sociedade tantas vezes inflamada por pessoas desorientadas que usam o Direito para simples enriquecimento pessoal...
Mas deixem-me parar de filosofar porque já tem umas amigas me olhando meio torto... Que nada, vou filosofar mais, quem mandou me escolherem para orador... Agora vou falar sobre o sujeito transcendental de Kant e a sua correlação com a desobediência civil de Thoureau... Melhor não né?
Falando sério, há um texto de Vinícius de Moraes que fala sobre um operário tentado por seu patrão a trair seus pares... O final do texto “Operário em Construção” é assim:
“[...] Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
— Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.
Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro de seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!
— Loucura! — Gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
— Mentira! — disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.
E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Como o medo em solidão
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.”

Meus amigos... Não se iludam com o dinheiro fácil... Não se corrompam... Sejamos operários em construção a entender que somos um todo... Que só quando compreendermos isso teremos uma sociedade onde crianças crescerão brincando sem sofrerem abusos de toda a natureza... Onde os homens jamais levantarão a mão em direção a uma mulher a não ser que seja para acariciar seu rosto... Onde a natureza será respeitada e os animais tratados como obras do Criador... Onde a riqueza deste país chamado Brasil estará no seu povo... E não duvidem que cada um de nós possui este poder de mudar o mundo... Abasteçam-se da coragem que tínhamos em nossa infância quando vestíamos as roupas de nossos heróis e enfrentávamos os piores vilões... Bebam das águas de Gandhi, Mandela e Luther King e façam do Direito uma barreira intransponível para a injustiça...
Porque, meu amigos, conforme disse Madre Tereza de Calcutá: “[...] Dê ao mundo o melhor de você,
Mas isso pode nunca ser o bastante...
Dê o melhor assim mesmo.
E veja você que, no final das contas,
É entre você e Deus...
Nunca foi entre você e os outros...”
Que daqui a dez anos nos reencontremos e cada um traga em seu coração a certeza de que tornou o mundo um lugar melhor para viver...
PARABÉNS FORMANDOS DE DIREITO DE 2010!!!!

Rodrigo Silva Pereira