sábado, 29 de novembro de 2008

Passagens

Já chorei lendo Pollyanna.
Torci pelos cachorrinhos de "A Gralha Azul".
Ri com Chico Bento e Cascão.
Entendi que o Cebolinha sempre foi apaixonado pela Mônica, e até hoje me divirto com seus planos infalíveis.

Já pulei sete ondas na virada do ano.
Dancei a dança da vassoura em festa americana.
Tomei caldo de cana com pastel no centro de Vitória.
Corri na chuva e levei bronca da minha mãe.

Já pus formigas para brigarem.
Catei mosca e coloquei perto de aranha.
Enchi o jardim de água para ver as libélulas encostarem a bunda ali.
Prendi sapo em vidro de xampu.

Já cortei o pé em caco de vidro.
Fugi de cachorro bravo.
Esfreguei cerol na linha de pipa e feri a mão.
Levei picada de abelha e ferroada de marimbondo.

Já rebobinei fita para decorar música, faroeste caboclo foram algumas semanas.
Ouvi Raul e Jovem Guarda.
Fui fã dos Beatles e do Guns and Roses.
É... Também Dominó, Polegar...

Já me fiz de inteligente sem entender uma palavra do que diziam.
Passei por burro quando me interessava.
Discuti coisa que não sabia.
Me calei quando deveria ter gritado.

Já lutei por aquilo que considerava justo.
Senti medo de escuro e enfiei a cabeça embaixo do travesseiro.
Liguei som alto para não ouvir meus pensamentos.
Tentei ver Fórmula 1 de madrugada e acabei dormindo.

Já fiz perfil no Orkut e apaguei.
Escrevi textos e não publiquei.
Mandei emails que não tiveram respostas.
Fiz promessas as quais não pude cumprir.

Já descasquei por causa do sol.
Peguei bicho de pé e só deixei Tia Silvia tirar.
Fiquei a semana toda esperando para ir na casa da minha vó.
Acordei com o olho pregado por causa da conjuntivite.

Já passei mal porque comi muita coxinha em festa de aniversário.
Pedi perdão com os olhos marejados por ter ofendido quem gostava.
Rezei novena em final de ano.
Fui na pracinha depois da missa encontrar os amigos.

Já sofri quando o Flamengo perdeu um jogo.
Torci muito pelo Brasil nas olimpíadas.
Esqueci de datas importantes.
Não disse Eu Te Amo quando devia...

Já soltei os peixes que pescávamos com pena de matá-los.
Tentei salvar passarinho machucado.
Levei tombo de skate e tive medo de andar de patins.
Procurei final de arco-íris para encontrar um pote de ouro.

Já fui dono de pocinha na praia.
Me apaixonei pela lua cheia.
Comi pão com açúcar e manteiga.
Fiquei de fora na pelada de rua.

Já fui super-herói, bandido, policial, médico, paciente, ator, pai de família e outros milhões de coisas nas brincadeiras com meus primos.
Roubei no palmo quando jogava bolinha de gude.
Levei tempo para conseguir fazer um peão de corda rodar.
Machuquei o pulso com o "bate-bate".

Já fiz gols mais bonitos que os de Pelé.
Corri mais que Usain Bolt.
Nadei como o Michael Phelps.
Tenho mais títulos em Super Mônaco GP do que o Schumacher sequer poderia imaginar.

Já ganhei abraços que ninguém mais no mundo inteirinho possui igual...
Senti o coração apertar de tanta saudade.
Fui caçador de sorrisos.
Tive que ir embora com uma imensa vontade de ficar.

E assim cheguei aqui...

sábado, 22 de novembro de 2008

Hoje

Hoje quero tudo misturado
Sol com chuva
Doce com salgado
Banana com uva

Quero beijos com gosto de sundae de chocolate
Abraços que parem o mundo à minha volta

Calor e frio
Sul e norte
Mar e rio
Azar e sorte

Quero travessuras com gostosuras

Quero sim...

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Inominado

Já faz alguns minutos que estou tentando escrever...
Na realidade alguns dias...

Vários textos começados e apagados... Nem todos... Alguns guardados, escondidos...

Queria falar sobre o que sinto e quem sou...

Complicado... É preciso segurar os pensamentos...

Já fui melhor nisso.

"
Estou sentado na praia. Posso me ver. Sou mais novo. O cabelo não está raspado. Sorriso fácil. O vento é forte. Fim de tarde. O sol se põe às minhas costas enquanto à frente começa, envergonhadamente, uma exposição de cores a me dizer que devo permancer ali. Enfio meus pés na areia. Está um pouco frio. A lua desponta no horizonte. Cheia como sempre. Tenho um livro nas mãos. Folheio. Ele é branco. Não há gravuras. Estou usando uma camisa bege, talvez amarela. Uma bermuda azul, sem dúvida. Escrevo algo na areia. O barulho das ondas é inebriante. Os pensamentos viajam. Penso em tudo que me espera. Nas dificuldades que irei enfrentar, sem na verdade possuir a menor noção de quais sejam. Latidos de cachorro me despertam. Já é noite. A lua maravilhosamente bela me sorri. Eu retribuo o gesto. Quero levantar. Meu corpo dói, passei muito tempo na mesma posição. Parado. Esperando. Que ela surgisse ao longe. Bem distante. Impossível de ser tocada. E mesmo assim fiquei ali... Só para sorrir... Quando despontasse no horizonte...
"

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Dos Erros

Hoje, enquanto ouvia "Há Tempos" do Legião, me peguei pensando sobre meus erros. Alguns específicos surgiram na minha mente mas refleti de maneira geral.
É comum ouvirmos "teria feito tudo da mesma forma" e, às vezes, também penso assim. No entanto, hoje vieram idéias contrárias.

Não, não teria feito da mesma forma. Em alguns momentos eu teria tomado outros caminhos. Acertaria. Ao menos tentaria.

Geralmente a experiência nos ensina. Evita incorrermos nas mesmas atitudes que nos fizeram mal. Neste ponto me veio a imagem de um Rodrigo criança. O que ele teria feito quando o Rodrigo adolescente e adulto erraram? Difícil responder porque aquele garotinho curioso e inquieto acertaria com certeza.

Ele não saberia responder qual a capital do Nepal, nem resolveria equações diferenciais ou problemas de física. A vida era algo simples. Resolvia tudo com muita paixão e pouca razão. Talvez aí esteja o segredo...

domingo, 9 de novembro de 2008

Pasárgada

Vou-me Embora pra Pasárgada
Manuel Bandeira

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Sobre a Conquista

Dedico este texto à Giorgia.

Se tem algo que aprendi neste tempo que caminho por aqui na terra é que as batalhas nunca cessam. O importante é "combater o bom combate", com a licença do apóstolo Paulo.
Sempre nos falam para levantar e seguir em frente. O que não nos dizem é que cairemos de novo, mas os tombos são necessários... Nos fazem mais fortes e preparados para os desafios que estão por vir.

Muitos desistem e mudam o rumo. Admiro os que persistem. Esses são os mais fortes.

Mandela disse, em um de seus textos, que escalou uma montanha muito difícil e traiçoeira, a liberdade do seu povo. Ao chegar no cume, exausto, percebeu que muitos outros montes restavam para serem conquistados. Apreciou a beleza da paisagem por alguns minutos e se pôs na nova caminhada.

Meus parabéns Gi! Um novo horizonte aparece à sua frente. Que essa mesma força que demonstrou até aqui esteja presente em sua profissão futura. Deus dá a poucas pessoas o dom de salvar vidas, e por isso precisa prová-las para que se deêm conta do poder que lhes foi entregue.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Sobre o Barco

Sun Tzu em "A arte da guerra" diz que em dias de guerra precisamos nos preparar para a paz e em tempos de paz nos armar para a guerra.

Muitas vezes nessa vida estamos em meio a um mar calmo, ondas marolando nosso barquinho, aproveitamos o sol forte e a abundância que nos cerca. No entanto, não devemos nos acostumar com isso. Inevitavelmente a tempestade irá chegar. E jogará o barco de um lado para o outro, contra as rochas, perderemos o rumo, os sentidos, blasfemaremos, sentiremos falta dos dias calmos (e por isso mesmo os valorizaremos ainda mais).

Da mesma forma que chegou, o mau tempo irá embora. Sobrarão os estragos que ele causou. E teremos a difícil missão de reconstruir sem deixar de aproveitar a bonança que outrora foi desejada.

Nunca estamos sós, nem nos tempos turbulentos nem na tranquilidade de um belo dia de verão. Outros barcos nos acompanham, às vezes de longe, nos guiando e indicando um caminho a seguir.

Quando um barquinho te fizer algum sinal, preste bastante atenção pois ainda que esteja no mar calmo e ele queira te levar para a tempestade, saiba que paz e guerra são os lados opostos de uma mesma moeda, uma não existe sem a outra e o equilibrio não se faz sorteando sempre o mesmo lado.

domingo, 2 de novembro de 2008

Pensando bem...

Pensando bem eu não sou um bom escritor.
Pensando bem nem gosto tanto de escrever.
Pensando bem a chuva sempre há de cair.
Pensando bem o sol vai surgir em seguida.
Pensando bem os anos vão passar.
Pensando bem a saudade ficará.
Pensando bem amores verdadeiros são raros.
Pensando bem é aí que se encontra a beleza deles.
Pensando bem nem queria ter muito dinheiro.
Pensando bem nem sei o que fazer com ele.
Pensando bem não acredito em coincidências.
Pensando bem passei a aceitá-las.
Pensando bem nem sei o que faço aqui.
Pensando bem...

Estou vivo e ainda tenho paixão,
Pensando bem é tudo que me importa.
Seguir em frente com essa esperança de que tudo dará certo...

sábado, 1 de novembro de 2008

Abstrações

Há alguns anos, um pouco mais de dez, eu lecionava matemática e física para o antigo segundo grau. Também vivia perdido entre algoritmos, alguns irresolúveis, na faculdade de engenharia.

Entre provas e códigos de computador, encontrei um livro chamado "A arte de resolver problemas".
Não o li, apenas folheei algumas páginas e me recordo de duas técnicas para solucinar o, aparentemente, impossível.

A primeira é "dividir para conquistar", resume-se em quebrar um desafio em pequenos pedaços e, à medida em que se vai resolvendo-os, o grande se torna solucionável.

A segunda é a técnica da abstração. Quando nos deparamos com um problema costumamos nos centrar em seu entorno, perdemos horas tentando encontrar a resposta dentro da própria questão. O segredo é abstrair. Fugir daquele escopo, procurar novas variáveis, enxergar além da realidade fática que nos é apresentada.

No filme "Patch Adams, o amor é contagioso" há uma pequena menção a esta técnica. Quem viu o filme se recordará que o Patch Adams se interna em um manicômio, lá ele encontra um milionário que mostra as mãos e pergunta quantos dedos vê. Resposta imediata, cinco! Não era a correta. O segredo estava em olhar através da mão. Mudar o foco para além dela, e daí os dedos se multiplicavam.

Por diversas vezes ao longo desta vida utilizei técnicas de resolução de problemas, quer seja no meio acadêmico, quer seja nos enigmas e problemas com os quais me deparei fora dele.

O que isso tudo tem a ver com este blog? Com os temas recorrentes?

Abstraia!