domingo, 31 de agosto de 2008

O Vendedor de Sonhos - Capítulo I

Era madrugada naquela pequena cidade. O carro escuro percorreu suas ruas frias e desertas observado apenas por um ou outro gato vadio a caminhar por entre os telhados das casas típicas do interior. Estacionou em frente à casa laranja, abandonada há algum tempo. De dentro desceu um homem que aparentava uns 30 anos de idade, barba por fazer, roupas amarrotadas e um olhar melancólico. Parou por um instante aparentando analisar o mundo à sua volta. Não era alto nem baixo, talvez tivesse um metro e setenta, também não era magro, uns setenta e cinco quilos. Não se importava com sua aparência, afinal havia mais coisas com que se preocupar...
Junto trouxe algumas malas e um cachorro em cuja coleira lia-se Rex. Era vira-lata de raça nobre, branco com olhos caramelo, pêlos baixos e pouca estatura, mas sabia mostrar os dentes para proteger sua comida. Latiu quando passou pelo portão grande que dava para um pequeno jardim cheio de mato, resultado do tempo negligenciado. Rex correu a descobrir e demarcar seu novo território. Estava tudo revirado à exceção de uma jabuticabeira no canto esquerdo próxima ao muro. Ela parecia muito bem cuidada, ao menos sob a luz parca do poste que clareava a rua naquela noite de lua nova nos últimos dias de junho. O ano era 2006...
O homem, exaurido pela longa viagem, se arrastou até a porta de entrada passando, antes, por 3 degraus que estavam a separá-la da trilha, hoje suja. O ranger das dobradiças enferrujadas ecoaram no silêncio e ele teve medo de assutar os vizinhos. Entrou depressa e chamou seu cão. A sala era pequena e a poeira acumulada irritou seu nariz. Espirrou. No fundo, à direita, uma estreita escada levava ao andar superior. No térreo havia ainda uma cozinha e um banheiro. Acima dois quartos, um não muito grande e outro amplo, dividiam espaço com outro lavabo.
Deixou as malas na sala e estendeu um saco de dormir no canto de um dos quartos. Dormiu como há muito não fazia. Sonhou com um tempo distante, onde a chuva caía e ele curtia a beleza da água doce e límpida preenchendo cada centímetro do seu corpo em meio a um maravilhoso pôr-do-sol.
E assim se foi a primeira noite, ou parte dela, em seu novo lar. Lar... Palavra riscada do dicionário daquele exausto homem que aparentava 30 anos de idade...

...

Ela estava muito agitada naquele dia. No auge de seus 17 anos tudo parecia novidade, apesar de nada definitivamente novo ocorrer em sua vida pacata naquela cidadezinha construída entre as montanhas. Era inverno.
Suas bochechas grandes e vermelhas contrastavam com seu olhos pretos perdidos entre pensamentos a contemplar estrelas na varanda de sua casa. A mente estava distante. Pensava em pintar os cabelos e as unhas enquanto se deliciava ouvindo música.
Era muito curiosa e carregava paixão em seu coração. Adorava ler, devorava livros. Por um instante parou a acompanhar uma formiga, dessas que costumam invadir açucareiros, que se perdera de sua casa e andarilhava nervosa e sem rumo. Logo desviou sua atenção para um canto do gramado onde pirilampos faziam peripécias em meio à escuridão interrompida por suas luzes intermitentes. Ela sorriu...
Decidiu ir se deitar. O calendário na cabeceira de sua cama marcava 27 de junho de 2006. Um leve suspiro saiu sem querer... Seu sono foi tranqüilo, apenas interrompido por um barulho de carro, incomum na madrugada, seguido do latido forte de um cão.

...

Acordou cedo naquela sexta-feira, apesar das férias escolares. Sentia algo diferente, uma alegria incontida. Despiu-se e foi tomar um banho. Encheu a banheira e ficou ali deitada olhando o teto e rindo de pensamentos perdidos em sua mente juvenil. Sua mãe gritou para que fosse tomar café. Levantou-se preguiçosamente, pegou a toalha e enxugou o corpo coberto de espuma.
Em pouco tempo estava na mesa.

- O que você tem? - a mãe perguntou
- Nada, por quê?
- Parece diferente...
- Acordei feliz, só isso.
- Assim, sem motivos?
- É...

Comeu alguns biscoitos, um pedaço de pão com geléia, tomou leite e saiu.
Caminhava pela rua em direção à velha casa laranja, no caminho admirou uma borboleta colorida que parecia dançar. Sorriu, tinha o riso fácil. Viu o carro escuro parado mas não deu muita bola, entrou pelo portão em direção à jabuticabeira.

- Oi! Como você está hoje? Linda como sempre. Alguma formiga comeu suas folhas? Tem uma jabuticabinha perdida em seu tronco?

Seguiu ali cumprindo sua velha e boa rotina de conversar com o pé de jabuticaba...

...

Ele acordou em meio às molhadas lambidas de seu cachorro.

- Pára Rex! Pára!

Ameaçou se irritar mas logo desfez a testa franzida, afinal quem poderia culpar um amigo tão próximo de o acordar?
Levantou-se e foi até o banheiro. Tudo estava empoeirado, seria um longo dia de limpeza e arrumações. Não se importava... Assim seria fácil preencher seu dia, pelo menos aquele...
Escovou os dentes, revirou as malas à procura de roupas, toalha e itens de sua higiene pessoal. Tomou um longo banho e foi despertado de seus pensamentos pela impaciência do seu cão.

- Tudo bem, tudo bem...Já estou indo. Precisamos comprar comida não é?

Rex o olhou e curvou o pescoço lateralmente como quem diz "o que você está dizendo?". Alguns minutos e os dois estavam na porta.
Ela se assustou quando os viu...

- Quem é você?
- Oi! - sorriu meio sem jeito, ainda assim aquele rosto exato o marcaria por toda a vida - Venho sempre aqui ver minha jabuticabeira...
- Foi você quem plantou?
- Foi sim... - se assustou com o cachorro em seu pé
- Ele não morde. Seu nome é Rex.
- Oi Rex, gosta de jabuticabas?

E assim se deu o primeiro encontro entre os dois. O homem do olhar melancólico e a menina sonhadora das buxexas grandes. Naquela manhã de inverno do dia 28 de junho de 2006...

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Justiça

É tarefa difícil conceituá-la. Talvez por isso seja táo difícil buscá-la.
Não deveria ser assim. Afinal Justiça é a incessante perseguição da Verdade. Sim, Verdade e não verdade.

Platão nos apresentou há muitos séculos "O Mito das Cavernas". Ele fala que estamos todos acorrentados em uma caverna e o que vemos são apenas sombras da realidade projetadas no fundo da gruta. Se alguém escapasse e viesse a enxergar o mundo externo, voltaria para contar aos outros. Eles não acreditariam, o taxariam como louco, afinal só conhecem a verdade limitada pelos grilhões e a caverna.

Acredito que Jesus Cristo, Gandhi e Luther King vislumbraram a Verdade. Pagaram com a vida. O argumento deles modificou o mundo, sem guerras ou qualquer outro tipo de violência.

Voltemos ao ponto inicial. Justiça.

Jamais a encontraremos se buscarmos raciocínios lógicos, se utilizarmos a mente. A Justiça está no coração. Antes de se perguntar se algo é Justo, feche os olhos e sinta o coração bater, ao menor aperto tenha a certeza de que está diante de uma injustiça.

Justiça é paixão. Não há como definir com palavras.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Saudade...

Saudade...

Saudade é querer...

Querer de volta o que se teve,
Querer o passado presente,
Querer estar onde se esteve.

Saudade é sentir...

Sentir o coração apertar
e os olhos marejar,
com o simples tocar...
Daquela música que ficou lá... Naquele antigo lugar.

Saudade é rimar...

Rimas ricas e pobres,
raras e esdrúxulas,
chiques e bregas,
sol com chuva e
jabuticaba com uva.

Saudade é estar...

Distante...
Infinitamente distante...
E paradoxalmente perto,
grudado.

Saudade é unir...

Vírgulas e reticências,
Em um texto qualquer...
Só prá tentar explicar,
o que jamais se conseguirá...

Saudade...

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Textos

Estou à procura dela. Antes estava por aqui o tempo inteiro. Bastava eu fechar os olhos e aparecia. Bela. Exuberante. A guiar meus dedos por entre os teclados num quase nirvana.

Onde foi?

Já saí por aí a buscando de volta. Encontrei pequenos lampejos de sua presença. Corri para escrever. Apaguei em seguida.

Inspiração.

Onde está a poesia? Minha poesia...
Se alguém a encontrar diga que estou com saudades...