domingo, 22 de abril de 2012

Professora Aninha...

Há muito tempo existia uma professora de nome Ana Maria... Professora Aninha, como todos a chamavam... Em sua turma, geralmente, estavam os alunos mais problemáticos... Um deles se destacava... E não de uma maneira boa... Era arteiro, inquieto, brigão, temido pelos coleguinhas...
Para a professora Aninha era uma criança necessitando de carinho e atenção... E era isso que aquele menino recebia dela... A mais pura dedicação... O mais leal afeto... Durante a noite ela rezava por ele... Pedia a Deus que o protegesse e o guiasse para o caminho do bem, uma vez que seus irmãos estavam presos, seu pai batia em sua mãe e esta descontava naquela pobre alma infantil...
Os ensinamentos e a ajuda Divina pareciam surtir efeito... Seu aluno a cada dia parecia estar mais meigo e doce... Até fez um desenho da professora com rabiscos em baixo que, com algum esforço, lembravam a palavra amor...
Certo dia a professora Aninha estava na sala dos professores quando ouviu gritos no pátio onde as crianças brincavam... Correu e viu seu aluno levado brigando com outro... A disputa era feia... De repente o menino atormentado pegou um pedaço de madeira que estava no chão, o levantou ao alto e desceu com o intuito de acertar um golpe mortal em seu oponente caído...
- Pare! - gritou a professora segurando seu braço - Não foi isso que te ensinei... - sua voz rouca, embargada pela tristeza, ecoou por toda escola.
Antes que ela pudesse abraçá-lo, ele fugiu, com vergonha da professora que tanto amava, em disparada pelo portão da escola...
Durante vários dias ela o esperou... Aquele menino nunca mais voltou à escola... O procurou em casa mas ele havia sumido... A professora chorou e rezou durante meses... Até que ficou sabendo da morte de seu aluno... E chorou ainda mais... E rezou também...
Os anos passaram e a professora Aninha parou de lecionar... Havia se aposentado, descanso merecido após anos de dedicação apaixonada e entrega aos seus alunos...
Seu país passava por momentos difíceis... Um ditador havia tomado o poder e a guerra tomara o lugar da paz... Nas ruas crianças desfilavam com armas... A violência era diária... A professora sofria... Dedicara anos e anos às crianças e via seu trabalho sem efeito... Com os olhos mareados foi até um velho quarto e pegou um pequeno quadro-negro... Juntou alguns tocos de giz e foi para a rua... Em meio a tiros fixou sua lousa e começou a ensinar... Não importava quem ouvia... Ela apenas repetia as lições que um dia preencheram suas aulas... Logo algumas crianças, que jamais tinham visto uma professora, pararam curiosas... A professora Aninha os olhava com candura e logo os poucos se tornaram muitos... Crianças, adolescente, jovens e adultos viam naquela senhora a chance de um futuro melhor... E as armas foram sendo abandonadas por livros, cadernos e lápis...
Aquilo começou a incomodar... Tanto que um grupo de soldados apareceu e levou a professora... E bateram nela... Mas no dia seguinte em uma atitude Gandhiana lá estava a mestra a ensinar... E de novo foi agredida... E de novo... E de novo...
O ditador, sabendo da situação solicitou que a levassem até seu palácio... Arrastaram-na então... Não sem antes a esbofetearem violentamente...
Carregada por dois soldados e quase sem forças para andar ela mal conseguia erguer sua cabeça...
- Quem é você? Uma louca?- gritou o ditador.
Silêncio...
- Vamos, olhe para mim! - insistiu gritando.
Um dos soldados a chutou na barriga com tanta violência que seu corpo caiu inerte próximo às pernas do ditador...
- Seu desgraçado!!!! Por acaso ordenei que fizesse isso???- gritou o ditador puxando sua pistola e apontando para o infeliz militar.
- Pare! Não foi isso que te ensinei... - disse quase sem voz a professora ao mesmo tempo em que tocava a perna de seu ex-aluno...
- Professora! - abaixou-se abraçando-a...
- Amor... - ela balbuciou enquanto o entregava um pedaço de papel que estava velho, amarelo e, agora, sujo de sangue...
Guardou por anos aquele desenho enquanto alimentava a esperança de um dia rever seu aluno especial...
O ditador chorou... Ela libertara uma criança assustada há muito escondida naquele coração...
- Me perdoe! - pedia ele aos prantos.
- Não! Me perdoe você... Devia ter me dedicado mais...
E aquela velha professora pode, enfim, aposentar sua voz, seu quadro e os tocos de giz...
À minha mãe Ana Maria que dedicou, e ainda dedica, sua vida a livrar-nos de malfeitores... Que educou as crianças para que não precisássemos punir os adultos... Feliz aniversário mãe! Te amo!